Selic a 10,5%: por que o Copom deve interromper corte dos juros

Selic caiu de 13,75%, em junho do ano passado para 10,5% agora, mas ciclo deve ser interrompido por deterioração das expectativas.

Selic a 10,5%: por que o Copom deve interromper corte dos juros
PVBI11 reduz vacância e atualiza investidores com mudanças na carteira. Foto: iStock

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anuncia nesta quarta-feira (19) se haverá ou não mudanças na Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, e a tendência projetada pelo mercado é de que o índice será mantido em 10,5%, interrompendo uma sequência de cortes iniciada em agosto do ano passado, quando o índice estava em 13,75%.

De lá para cá, foram seis cortes seguidos de meio ponto, nas quatro reuniões do segundo semestre de 2023 e nas duas primeiras deste ano. Em meio, porém, o ritmo foi reduzido e o corte foi de 0,25 ponto, numa decisão dividida: cinco diretores votaram por esse corte, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, enquanto quatro diretores preferiam manter o ritmo de 0,5 ponto.

A justificativa da maioria se concentrou na deterioração das expectativas quanto ao cumprimento das metas fiscais, e no aumento das pressões inflacionárias, também como consequência das enchentes no Rio Grande do Sul, na passagem de abril para maio.

A proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2025 que previa déficit fiscal zero, ante previsão de superávit anunciada durante a aprovação do arcabouço fiscal, em 2023, foi vista com ressalvas pelo mercado.

“A mudança nas metas fiscais pode sinalizar uma maior flexibilidade nas políticas de gastos públicos, o que, sem contrapartidas adequadas, pode pressionar a inflação e pode levar a um aumento da dívida pública, afetando a confiança dos investidores e, consequentemente, as expectativas inflacionárias”, explica Rodrigo Romero, economista da Levante Inside Corp.

Selic: inflação mais alta liga sinal amarelo

De lá para cá, as parciais do IPCA em abril e maio vieram maiores que o esperado, o que reforçou a tendência de alta dos juros futuros e ampliou no mercado a precepção de que o Copom não mexerá mais na Selic este ano – tanto que o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (17) já coloca a taxa básica de juros em 10,5% no fim do ano.

Nicolas Gass, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, aponta que fatos recentes, como a resistência do Congresso a medidas do governo para ampliar a arrecadação e compensar a desoneração das folhas de pagamento, devem mostrar uma postura mais cautelosa do BC.

“A gente espera que o Campos Neto dê um tom um pouco mais ‘hawkish’, sinalizando preocupação, principalmente, com o Rio Grande do Sul, com os efeitos inflacionários que possamos vir a ter agora”, detalhou Gass.

Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, destaca ainda outros fatores, como a valorização do dólar, que está em suas cotações mais altas do ano, no patamar de R$ 5,40. “Desde o dissenso na última decisão do Copom, observamos uma piora dos balanços de riscos e o desafio do BC aumentou em convergir a inflação para a meta em 2025”, explica o especialista.

Ele também projeta um tom duro no comunicado, em razão da “piora do balanço de riscos”, mas não espera uma decisão definitiva. “O comunicado não será para encerrar o ciclo, mas de interrupção, e o Copom deixará a porta aberta para novos cortes dependendo dos dados futuros”, acredita Bolzan.

Copom deve buscar consenso, dizem especialistas 

A decisão, apontam os analistas, também passa por uma busca de consenso dentro do Copom, depois do impacto negativo da decisão dividida da reunião passada. Para Rodrigo Romero, da Levante, uma nova divisão pode reforçar as dúvidas do mercado e dificultar a ancoragem das expectativas de inflação.

“Quando o mercado percebe divergências dentro do órgão responsável pela política monetária, pode interpretar isso como uma falta de clareza na estratégia, o que eleva as incertezas inflacionárias”, aponta o analista.

Marcelo Bolzan, da The Hill Capital, endossa o discurso. “Depois dos ruídos causados na última reunião, dessa vez o colegiado buscará um consenso para reforçar que as decisões foram tomadas de forma técnica e não com interferência política, e assim eliminar qualquer dúvida sobre a credibilidade da política monetária”, destacou.

Ricardo Tadeu Martins, economista-chefe da Planner Investimentos, afirma que qualquer decisão que não seja unânime estará “errada”. “A unanimidade é fundamental para reativar a coerência interna, gerar credibilidade e reancorar as expectativas, expurgando os excessos nas projeções da pesquisa Focus e minimizando dúvidas sobre leniência inflacionária”, destaca.

Selic também é afetada por fatores externos, dizem analistas

Nicolas Gass, da GT Capital, aponta que a decisão do Fed de manter os juros dos EUA no intervalo de 5,25% a 5,5% ao ano, anunciada na semana passada, também deve pesar na decisão do Copom.

“A previsão que a gente tinha de fecharmos o ano aqui no Brasil em uma taxa terminal de 9,5% ano ano dependia muito dos Estados Unidos diminuindo a taxa deles a partir de maio. E a gente tem um cenário totalmente diferente”, afirma o especialista.

Marcelo Bolzan, da The Hill Capital, reforça a sensação e destaca que o dólar tende a manter a força dos últimos meses. “A consolidação das expectativas de juros mais altos por mais tempo nos EUA deve continuar atraindo o fluxo de recursos em detrimento dos emergentes, e com isso o cenário de câmbio desvalorizado permanece à frente”, destaca.

O economista Bruno Corano, da Corano Capital, aponta que uma queda da Selic poderia, inclusive, ser prejudicial ao real. “Uma eventual redução de juros pressiona ainda mais o câmbio, porque gera saída de capitais e menor interesse pela moeda”, conclui.

Selic estagnada: e os FIIs?

De forma geral, o mercado enxerga uma relação inversa entre Selic e fundos imobiliários: a queda da taxa básica de juros estimula as negociações e melhora condições de atuação para os chamados FIIs de tijolo, que exploram edifícios reais, que tendem a ser beneficiados com o estímulo da atividade econômica causado pela queda dos juros.

Por outro lado, os juros em patamares acima dos projetados no início do ano tende a beneficiar os FIIs de papel, que negociam títulos de dívida cuja rentabilidade se mantém elevada. FOFs (fundos de fundos) e FIIs multiestratégia também podem ser beneficiados, desde que os gestores tenham competência em ajustar a carteira em busca de ativos dos setores que oferecem melhor rentabilidade.

De forma geral, contudo,analistas acreditam que o mercado de fundos imobiliários aos poucos deve se estabilizar novamente, com ajustes de precificação dos ativos a partir das condições macroeconômicas e de eventuais novas projeções para a Selic.

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foto: Fernando Cesarotti
Fernando Cesarotti
Editor

Jornalista, editor do FIIs.com.br. Graduado pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo Literário, com mais de 20 anos de experiência em coberturas de economia, política e esportes. Passagem também pelo meio acadêmico, como professor universitário em cursos de Comunicação e líder de empresa júnior.

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