Como o ciclo de alta da Selic pode afetar os Fiagros?
O mercado espera que a Selic alcance 12,25% em 2025. Os fiagros podem ser afetados tanto no aumento dos dividendos quanto no risco de crédito
Os Fiagros – Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais – podem pagar dividendos maiores com a alta da Selic. Com a expectativa do mercado de uma taxa de juros em 12,25% em 2025, os fiagros podem se beneficiar dessa alta, pagando dividendos robustos.
Isso acontece porque grande parte dos fiagros possuem ativos de crédito do agronegócio, os CRAs. E muitos desses ativos são indexados ao CDI. Quando a Selic sobe, os juros desses ativos também aumentam, acarretando em mais lucros no “bolso” dos investidores.
De acordo com os especialistas consultados pelo FIIs.com.br, o ciclo de alta da Selic tem consequências positivas, com esse possível aumento no valor dos dividendos dos fundos.
Porém, isso não significa que o setor está ileso a problemas. Com a queda no preço das cotas, os fundos estão com o dividend yield maior, o que pode ser uma “pegadinha” para o investidor que só observa esse indicador.
Os fundos que cederam crédito para empresas muito alavancadas podem sofrer com o aumento nos juros. O desafio para o investidor é escolher fundos que tenham perfil de risco mais diversificado e equilibrado.
Selic em alta, dividendos maiores: mas tem que saber analisar o risco
Quem investe em fiagros geralmente está “de olho” nos rendimentos mensais, isentos de imposto de renda para pessoa física. No mercado, a maioria dos fundos investem na dívida do segmento pagando prêmios acima do CDI.
Mas a boa notícia para o investidor não é apenas o possível aumento dos dividendos. De acordo com Diogo Arantes, consultor financeiro e fundador do FII Fácil, muitos fundos estão com as cotas negociadas abaixo dos seus valores patrimoniais.
Ou seja, “como eles estão muito descontados e pagam CDI+, então se tiver alguma recuperação do mercado, é possível ter um ganho de capital com a valorização das cotas”.
Artur Akira, analista CNPI e integrante do Vai Pelos Fundos, comenta que o aumento do CDI também acarreta maior endividamento para as empresas devedoras dos fiagros, o que pode afetar o fluxo de caixa dos fundos.
Isso significa, destaca o analista, que os juros que o devedor paga aos fiagros, para ele a dívida fica mais cara. Esse pode ser um problema maior para os Fiagros com dívidas estruturadas a juros muito elevados, principalmente para devedores muito alavancados.
Em 2024, diversos fiagros sofreram com a recuperação judicial de empresas devedoras. Alguns poucos fundos do mercado, como OIAG11, SNAG11, KNCA11 e outros, não tiveram “eventos de crédito adversos” neste ano.
Por outro lado, Arantes diz que o segmento do agronegócio não se surpreende tanto com o CDI mais elevado. Isso se torna um problema maior se houver outros problemas estruturais, como quebra de safra, redução do preço das commodities ou problemas climáticos. “Como vários financiamentos deles são no mercado internacional, o setor já está acostumado com taxa do CDI relativamente mais elevada”, comenta o consultor financeiro.
Setores do agronegócio que podem “surfar” a alta dos juros correndo menos risco
Akira enfatizou que é crucial diversificar a exposição entre diferentes setores, como o sucroalcooleiro, que historicamente se mostra mais resiliente, e ponderar sobre a robustez dos devedores.
“Os investidores devem ficar atentos não apenas ao número de CRAs em um fundo, mas também à diversidade de devedores. A concentração elevada, como em alguns Fiagros que apresentam quase 30% em devedores únicos, representa um risco significativo”, alertou.
O analista também mencionou que, embora não existam Fiagros com tantos ativos high grade, há opções com perfil de risco médio que podem ser adequadas para investidores. “Recomendo que busquem gestoras com experiência no setor agrícola e um histórico sólido, pois essas equipes tendem a ter um conhecimento mais profundo das nuances do agronegócio.
Em uma análise sobre alta da Selic e o risco dos fiagros, Arantes enfatiza a importância de uma equipe de gestão sólida e experiente.
Segundo o consultor financeiro, investidores devem buscar gestoras que compreendam não apenas o aspecto do crédito, mas também a dinâmica do agronegócio como um todo.
Ele alertou que, em períodos de alta na Selic, o setor pode enfrentar desafios, especialmente se surgirem problemas de crédito: “É vital olhar para as operações e identificar quais segmentos, como o de proteína, podem ser mais complicados. A falta de diversificação torna o investimento mais arriscado”, afirmou.
O consultor também acredita que os investidores devem optar por perfis de fundos de menor risco, ressaltando a necessidade de um gerenciamento que se antecipe às dificuldades do setor, como eventos climáticos adversos ou redução no preço das commodities.
“O agronegócio tem uma dinâmica particular nas instituições financeiras, onde muitas vezes é necessário ter paciência e entender que podem ocorrer imprevistos”, explicou Arantes. Ele concluiu que, embora os dividendos dos Fiagros sejam atraentes, a concentração em ativos deve ser mantida em níveis baixos para minimizar riscos.