Fiagros baratos: entenda o que está acontecendo e como investir bem
Fiagros valem a pena, na visão de especialistas, mas é preciso olhar além do preço baixo e escolher ativos preparados para volatilidades.
O mercado de Fiagros vive momentos de turbulência nos últimos meses, com fundos sendo obrigados a reduzir ou até suspender o pagamento de dividendos, devido a eventos de inadimplência e pedidos de recuperação judicial, e sofrendo com fortes quedas de cotações.
Alguns especialistas, porém, acreditam que o desconto para alguns Fiagros está desproporcional, inclusive para alguns fundos que não tiveram registro de inadimplência – caso do SNAG11, da Suno Asset, que mesmo assim acumulou queda nas cotações nos últimos dois meses.
Isso pode gerar possibilidades de ganho de capital no médio e longo prazo que estiver disposto a pagar barato por cotas de Fiagros. Octaciano Neto, por exemplo, acha que o momento é excelente.
“Certamente o melhor momento para quem investe em fundos de crédito. Um monte de Fiagro rendendo 20% ao ano. Momento ruim para as gestoras que não poderão fazer oferta nos próximos meses. Para os investidores, momento mágico. Fiz nos últimos dias o que nunca recomendei, não recomendo e que nunca fiz até então: All In em Fiagros”, destacou o especialista.
Octaciano tem mais de 25 anos de experiência como produtor e especialista no agronegócio. Foi secretário de Agricultura do Espírito Santo e ex-diretor de agronegócio na Suno, onde acompanhou de perto o trabalho de gestão do SNAG11 e do SNFZ11. Se a fala de Octaciano não deve ser vista como uma recomendação de investimentos com garantia de retorno, pode ser interpretada como um sinal positivo onde boa parte do mercado vê mais motivos para pessimismo.
Para Tiago Reis, fundador e chairman do Grupo Suno, acredita que a situação é preocupante e merece atenção dos investidores, mas afirma que os dados mostram que o cenário não vive uma crise sistêmica, e sim eventos isolados que acabaram atingindo alguns Fiagros. “Isso não é generalizado nem entre os Fiagros”, avisa o gestor.
Soja: três problemas da atual safra
Tiago Reis lembra que, de uma forma geral, os produtores de soja, principal commodity do agronegócio brasileiro, sofreram fortes problemas com três fatores nos últimos meses:
- volume – a safra 2023/24 foi inferior à safra 2022/23 principalmente por eventos climáticos;
- preço – apenas da safra menor, o preço também caiu no mercado internacional, com demanda menor que nos anos anteriores;
- custo – os insumos, como sementes e fertilizantes, ficaram mais caros.
“O agronegócio é cíclico. Os fertilizantes já estão ficando mais baratos e a tendência é que a próxima safra tenha menos problemas com eventos climáticos”, explica o chairman da Suno.
Além disso, ele detalha que boa parte dos eventos de crédito ocorridos recentemente contam com garantias reais, como terras e equipamentos, o que impede uma perda real para os titulares dos títulos de dívida. “É um processo complicado, dá trabalho, mas não impede quem emprestou de recuperar o capital. Em alguns casos, até com lucro”, explicou Tiago Reis.
Fiagros: por que os preços caíram?
Alguns eventos de inadimplência causaram muito ruído no mercado de Fiagros nos últimos dois meses, com destaque para o pedido de recuperação judicial da Agrogalaxy, uma das principais empresas no setor de comércio de insumos.
Dos seis Fiagros que tinham exposição a títulos da empresa, cinco tiveram impacto nos dividendos, com redução de valores e até casos de suspensão. Apenas o AAZQ11 manteve o patamar dos meses anteriores, com impacto mínimo em seu patrimônio líquido, já que tinha menos de 0,5% desse valor alocado em CRAs da Agrogalaxy.
O RURA11 também precisou reduzir seus dividendos em 40%, depois de casos de inadimplência de dois devedores, e informou em relatório gerencial que o novo patamar deve se manter ao menos até o fim do ano. Com isso, a cotação acumulou mais de 20% de queda ao longo do mês de outubro.
O SNAG11, por sua vez, não teve nenhum impacto e segue com a carteira 100% adimplente; mesmo assim, sua cotação também caiu e, para acalmar os investidores, a Suno Asset optou por anunciar um guidance de dividendos, com centro em R$ 0,10 por cota, com banda entre R$ 0,09 e R$ 0,11 por cota.
A gestão lembra que a carteira do SNAG11 foi montada de forma a obter um perfil high grade, que privilegia a melhor relação entre risco e rentabilidade. O patrimônio líquido está em R$ 582,2 milhões, um dos 10 maiores entre os Fiagros listados na B3.
Fiagros: como escolher a melhor opção?
Para especialistas, é possível aproveitar o momento, mas não basta olhar o preço e a relação P/VP na hora de buscar um investimento em Fiagros, assim como o dividend yield dos últimos meses.
“É preciso olhar bem a carteira, quais são os ativos, se a escolha é segura, a qualidade de crédito da empresa é boa e os títulos contam com boas garantias”, aponta Tiago Reis.
Ele destaca ainda acompanhar o histórico da gestora, dizendo que não basta ser uma empresa especializada em mercado financeiro: é preciso que ela compreenda as peculiaridades do agronegócio e esteja preparada para atuar em um setor que tem volatilidades específicas, mas que pode proporcionar um ótimo retorno para o investidor que souber fazer boas escolhas.