Selic em 15% ao ano: qual o impacto da decisão para o mercado de fundos imobiliários?
Selic foi elevada a 15%, mas Copom sinaliza para fim do ciclo de alta; veja o que dizem especialistas sobre o cenário econômico.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a Selic para 15% ao ano na reunião encerrada na última quarta-feira (18). A decisão esteve em linha com as expectativas de parte do mercado financeiro, embora muitos analistas estivessem projetando a manutenção da taxa em 14,75%.
O aumento reflete a postura cautelosa do Banco Central diante dos riscos inflacionários persistentes e das incertezas fiscais. Apesar do ajuste, o comunicado sinaliza que o ciclo de alta pode estar próximo do fim, indicando uma possível pausa na elevação da taxa de juros. Isso foi visto de forma positiva por Gustavo Sung, economista-chefe da Suno.
“O comunicado teve o tom que esperávamos, e isso foi um sinal importante e positivo. Ele destaca que o ciclo de alta se encerrou, mas que o Copom está de olho nos dados e deve manter os juros elevados por um período bastante prolongado, caso seja necessário”, aponta o especialista.
A decisão do Copom foi interpretada por especialistas como um movimento prudente. “A decisão mostra que o Copom está comprometido em fazer a inflação convergir e acredito que vamos ter uma leitura bastante positiva para os mercados no que diz respeito às curvas de juros”, projeta Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital.
Leonardo Garcia, analista de fundos imobiliários (FIIs) e Fiagros na TRX Investimentos, destacou que a alta na Selic é uma medida utilizada para conter a inflação que impacta de forma direta os fundos imobiliários de papel indexados ao CDI.
Já os FIIs atrelados ao IPCA devem ser observados com mais atenção, diante das projeções de queda dos índices inflacionários. “Os juros elevados representam um risco de deterioração dos resultados, uma vez que a Selic alta é um instrumento utilizado para controlar a inflação”, destaca o especialista.
Nos fundos de tijolo, o impacto aparece no custo da dívida e nas novas emissões de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), que financiam as obras, mas ficam mais caras nesse ambiente Mas o analista mantém a visão otimista para o setor no médio e longo prazo. “O momento ainda oferece excelentes oportunidades. Existem segmentos descontados, mas com fundamentos sólidos e dividend yields elevados”, aponta Garcia.
Selic a 15%: mercado já precificou indicador
Para Marcos Freitas, sócio e CIO da AZ Quest, o mercado já começa a precificar uma virada no ciclo. “Se por um lado a Selic está alta e deve continuar assim por um tempo, por outro as expectativas são de queda. O mercado já olha para isso e antecipa movimentos nos preços dos ativos”, comenta.
Segundo Freitas, os fundos imobiliários costumam reagir mais lentamente às mudanças na política monetária. “Há um atraso na reação das cotas dos FIIs quando comparados a outras classes. A maior parte dos ativos responde de forma mais imediata à queda esperada dos juros, enquanto os FIIs demoram mais para refletir esse movimento”, afirma.
Ainda assim, o desempenho do IFIX em 2025 já dá sinais de retomada. “Houve uma melhora significativa no índice neste ano, e a expectativa agora é de continuidade”, conclui Freitas.
Na visão de André Muller, estrategista e economista da AZ Quest, a política monetária tem cumprido o seu papel, com os juros em um patamar bastante restritivo. Até um tempo atrás, havia alguma desconfiança se de fato a política monetária estava gerando efeitos. “Isso ocorreu em um ambiente de crescimento que seguia surpreendendo para cima”, comenta o economista.
Para que o ciclo de alta da Selic possa ser efetivamente encerrado, Muller comenta a importância do governo também fazer sua parte. “A política fiscal deve manter uma postura neutra, sem aceleração das despesas”, defende.
