Semana Especial de Fiagros: como começar a investir em meio à expansão do mercado?
Na primeira reportagem especial sobre os Fiagros, apresentamos as principais características de um mercado em franco crescimento.
Os Fiagros, sigla para Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, são uma modalidade de aplicação financeira criada em 2021 com o objetivo de ampliar as possibilidades de financiamento do agronegócio. Recursos captados junto a investidores, por meio da emissão de cotas, são destinados às cadeias produtivas do agronegócio e a imóveis ocupados pelo setor, que recompensam esses investidores com a rentabilidade de sua produção.
A Semana Especial de Fiagros traz, até sexta-feira, uma série de reportagens especiais para quem deseja conhecer mais a fundo esse mercado. Também na sexta, uma live com o diretor de Agronegócio da Suno, Otaciano Neto, e o analista de crédito estruturado Gustavo Branco, da Suno Asset, vai tirar dúvidas dos investidores sobre o setor. Fique de olho!
Os Fiagros funcionam num mecanismo similar ao dos Fundos Imobiliários (FIIs): são divididos em cotas, que podem ser negociadas no mercado secundário da B3, e devem distribuir semestralmente 95% de seus lucros sob a forma de dividendos, que são isentos de Imposto de Renda – os principais fundos, no entanto, fazem essa distribuição mensalmente.
O investidor pode lucrar também com o ganho de capital na compra e venda das cotas, de acordo com as oscilações do mercado. Neste caso, porém, há tributação de 20%, como acontece com FIIs e também com ações.
Recentes casos de inadimplência registrados em empresas do agronegócio vêm deixando investidores em dúvida sobre os riscos de se investir em Fiagros. Alguns fundos são credores de empresas que entraram em recuperação judicial nos últimos meses e, por isso, deixaram de cumprir suas obrigações, o que reduziu a rentabilidade desses ativos.
É importante deixar claro que, como todo investimento de renda variável, os Fiagros não têm garantia de rentabilidade. Mas, no atual cenário macroeconômico, com inflação baixa e Selic em viés de queda, podem se mostrar, em casos bem-sucedidos, como opção interessante a quem busca rendimentos maiores que nas modalidades de renda fixa.
O SNAG11, por exemplo, Fiagro sob gestão da Suno Asset, segue com inadimplência zerada e um dividend yield anualizado de 13,3% ao ano, propiciando um retorno bem maior que a Selic, hoje em 10,75% ao ano.
Vale registrar, ainda, que o mercado de Fiagros vem em pleno crescimento, com R$ 10,8 bilhões em custódia e mais de 500 mil investidores em março, segundo dados da B3, mais do que dobrando sua base em 12 meses.
Fiagros: quais são os ativos negociados e como escolher?
Os Fiagros conseguem explorar tanto as atividades relacionadas diretamente ao agronegócio, atravessando todas as etapas da produção, desde o financiamento das sementes que serão plantadas à industrialização e distribuição dos produtos. Também é possível investir no mercado imobiliário agrícola, por meio da compra e locação de imóveis destinados à produção e ao armazenamento.
Os principais instrumentos de investimento são:
- Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs): títulos de dívida privados emitidos por empresas do setor;
- Imóveis e propriedades rurais;
- Sociedades que atuam na exploração de atividades da cadeia do agronegócio;
- Cotas de outros fundos do setor agropecuário.
Ao decidir investir em Fiagros, o investidor deve primeiramente se questionar sobre dois aspectos cruciais: qual o nível de risco que está disposto a enfrentar e qual o seu horizonte de tempo para o investimento.
No caso dos CRAs, a remuneração dos títulos é atrelada a um índice, que pode ser o CDI (por sua vez atrelado à Selic) ou o IPCA, a inflação oficial do país, além de um spread, ou seja, uma diferença, que varia de acordo com uma série de fatores.
Empresas em boa situação tendem a emitir títulos com remuneração menor, mas que são considerados mais seguros. Já empresas que oferecem spread maior, explica Vitor Duarte, CIO da Suno Asset, tendem a ter uma qualidade de crédito menor, o que amplia o resto de inadimplência.
Ele recomenda, assim, a escolha de fundos que possam lidar bem com períodos de turbulência, como o atual, em que alguns fundos relataram inadimplência.
“Alguns Fiagros enfrentaram problemas com Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) recentemente devido à compra excessiva de risco, enquanto os Fiagros mais conservadores se saíram melhor nos últimos tempos”, aponta. O SNAG11 segue com a inadimplência zerada em sua carteira de CRAs.
De olho na liquidez
No que diz respeito ao horizonte de tempo, é importante considerar a liquidez do investimento. Como os Fiagros são fundos fechados, a saída do investimento ocorre apenas com a venda das cotas na bolsa. Portanto, quanto mais negócios são fechados diariamente, mais facilmente o investidor consegue liquidar sua posição.
O volume de negociação dos Fiagros somou R$ 536,4 milhões em março de 2024. SNAG11, VGIA11 e RZAG11 foram alguns dos Fiagros com maior volume de negociação em março deste ano, de acordo com relatório divulgado pela B3 (B3SA3).
Mario Okazuka, CEO da GCB Capital, explica que, com essas respostas em mente, o investidor pode então buscar os fundos que melhor se adequam ao perfil, analisando a política de investimento de cada fundo.
“Existem fundos mais conservadores, que adquirem ativos com baixo risco, por exemplo, dívidas de companhias do segmento com ratings elevados. Por outro lado, há teses mais agressivas que podem buscar maiores retornos diretamente em participações societárias das empresas”, afirma o gestor.
Fiagros: qualidade da gestão e transparência são essenciais
Um dos aspectos fundamentais para o sucesso no investimento em Fiagros é contar com um time de gestão que compreenda profundamente o setor agroindustrial. Isso garante uma busca constante por ativos de qualidade e uma gestão eficiente da carteira, incluindo análises robustas de crédito e informações completas sobre as teses de investimento.
Dentro desse contexto, um dos pilares essenciais é a transparência. Nos relatórios gerenciais, o investidor deve procurar a gestora que fornece todos os detalhes da carteira, destacando as operações e estratégias de diversificação envolvidas.
“Isso proporciona segurança ao investidor, que conhece verdadeiramente no que está investindo. Além disso, a partir desse pilar de transparência, o time de gestão desenvolve as operações desde o início, avaliando todos os riscos envolvidos na carteira do fundo, com foco na estabilidade dos rendimentos”, explica Amanda Coura, analista da Suno Asset.
Assim, o investidor deve iniciar o processo de seleção avaliando indicadores amplos, como quantidade de cotistas, liquidez, volatilidade, dividendos e recorrência dos pagamentos. É preciso, ainda, correlacionar esses indicadores por meio de diferentes métricas.“É importante realizar uma análise detalhada dos Fiagros, considerando também o histórico de desempenho do gestor e da equipe gestora, antes de optar pelo investimento”, conclui Lenon Barbosa, analista de Agronegócio da Suno.