VGIA11: devedora do Fiagro cita necessidade de “reestruturação do endividamento”; gestora se pronuncia
A cooperativa Languiru, devedora dos instrumentos de dívida usados para lastrear as emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) presentes na carteira do Fiagro VGIA11, citou a necessidade de reestruturar o endividamento da empresa junto aos seu credores financeiros.
Em comunicado enviado aos bancos credores, a Languiru, que é devedora do VGIA11, informou que tem enfrentado, nos últimos anos, um “cenário extremamente desafiador”.
Neste sentido, a cooperativa cita a alta do custo de insumos, estiagem “rigorosa” no Rio Grande do Sul com diminuição na oferta de produtos locais, alta “drástica” da taxa Selic e diminuição do poder de compra de consumidores.
A Languiru cita que, devido a isso, os reflexos “foram extremamente fortes”.
Segundo a devedora do VGIA11, os investimentos efetuados nos últimos cinco anos, da ordem de R$ 300 milhões, que visavam “a expansão e/ou atualização tecnológica de suas plantas industriais , não obtiveram os resultados esperados”, de forma a contribuir para a alta “significativa de seu endividamento”.
Conforme a Languiru, após diagnóstico realizado no mês passado, foi identificada a “necessidade de imediata e ampla reestruturação do endividamento junto aos credores financeiros”.
A cooperativa cita que, mesmo trabalho, também existe “a recomendação de avaliar-se a possibilidade de desinvestimento e venda de ativos”.
Ainda de acordo com a empresa, diante da conclusão de busca “imprescindível” de outras cooperativas para associação, prioritariamente, ou alienação integral dos negócios de suínos e aves, com o intuito de entrada de recursos mínimos, entre R$ 250 e R$ 300 milhões, para diminuir as dívidas e custos financeiros, ela está comprometida “com esta solução”.
Pronunciamento da gestora do VGIA11 sobre o comunicado
Em nota, a gestora do FIagro VGIA11, Valora Investimentos, se pronunciou a respeito do comunicado da Languiru enviado aos bancos.
A gestora alega que “a situação de performance econômica deficitária da empresa nos dois últimos exercícios é decorrente de uma condição de mercado que afetou toda a cadeia de proteínas suína (principalmente) e de aves”.
Sobre o crédito propriamente dito da Languiru, a gestora do VGIA11 alega que “os fundamentos são positivos, com quase 70 anos de atividade, diversificadas e verticalizadas, com plantas fabris dedicados aos diversos produtos da mesma”.
“Sob o ponto de vista financeiro, a empresa apresenta historicamente boa estrutura de capitais e liquidez, além dos ativos imobilizados terem alto valor agregado”, prossegue.
Conforme a gestora do VGIA11, desde o segundo semestre de 2022, a Languiru começou um processo de reestruturação operacional, com o objetivo de reduzir os reflexos do cenário adverso da cadeia produtiva suína, diminuindo “a relevância desta em sua atividade, com consequente melhora de performance e redução da necessidade de capital de giro, culminando com o início do processo de venda dos ativos a ela relacionados, como forma de amortizar dívida”.
A Valora informa que o pedido de reestruturação da dívida (sem haircut do principal) enviado aos bancos tem o objetivo principal de alongar a dívida. “como forma de preservar liquidez e garantir tempo hábil para a conclusão do processo de reestruturação e venda dos ativos (a serem usados para amortizar dívida).
“Hoje, do passivo bancário da empresa, 80% é composto por bancos com largo histórico no agro e também com a Languiru, com alta probabilidade de êxito no reperfilamento do prazo”, comenta a gestora.
Por fim, a gestora do VGIA11 destaca que seu CRA não está relacionado com as operações a serem reestruturadas, “sendo mantido o pagamento e o valor de juros de juros mensais — com três parcelas já retidas na conta Escrow, cujo fluxo de recebíveis performados (120% do principal) a abastece recorrentemente de liquidez — , além dos prazos originais de amortização”.
O Fiagro Valora CRA
O Fiagro VGIA1 é um fundo que visa a aplicação preponderante em CRAs, segundo critérios de elegibilidade definidos na política de investimentos.
Em relatório gerencial referente a janeiro, o fundo cita que encerrou o período com a totalidade de seu patrimônio alocado em CRAs, distribuído em 25 ativos. O total investido foi de R$ 801,8 milhões.
Na carteira de ativos do VGIA11, aparecem o CRA Languiru (no valor de R$ 50,5 milhões), CRA Languiru II 2S (R$ 25,2 milhões) e Languiru III (R$ 23,2 milhões).
Em fato relevante, o VGIA11 ainda cita que os CRAs possuem “estrutura de garantia, composta por cessão fiduciária de direitos creditórios decorrentes de contratos de compra e venda firmados pela Languiru e os compradores de seus produtos, fundo de reserva, avais dos executivos da Languiru e penhor agrícola (sendo esta última garantia em parte dos CRA)”.