Selic a 10,75%: como ficam os FIIs com a decisão do Copom?
Selic registrou primeira alta pelo Copom desde agosto de 2022; veja quais segmentos ganham e perdem com aumento da Selic no curto prazo.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) confirmou as expectativas do mercado e anunciou a alta da Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, na primeira elevação da taxa básica de juros decidida pela autoridade monetária desde agosto de 2022.
A decisão era esperada pelo mercado desde pelo menos duas semanas atrás, quando o PIB do segundo semestre foi anunciado, com alta de 1,4% na comparação com o trimestre anterior e de 3,3% na comparação com o mesmo período de 2023.
O resultado foi visto por parte dos analistas como mais um mecanismo de pressão inflacionária ao lado das dificuldades fiscais do governo e de pressões como um possível aumento dos preços de energia, com a adoção da bandeira vermelha diante do cenário de seca.
A confirmação das expectativas veio na semana passada, quando o Boletim Focus, divulgado pelo BC às segundas-feiras, trouxe pela primeira vez a projeção de Selic a 11,25% ao ano no fim de 2024, depois de 11 semanas consecutivas com a expectativa em 10,5%, ou seja, de que não haveria mais alterações na taxa até o fim do ano.
A estimativa foi repetida no Focus desta semana e a dúvida principal do mercado ficou entre a opção por três altas de 0,25 ponto percentual, nas reuniões restantes até o fim do ano, ou se o Copom optaria por uma alta inicial de 0,5 ponto para depois reduzir o ritmo do ajuste monetário. No fim, a primeira opção prevaleceu.
O impacto da alta da Selic sobre os FIIs, por sua vez, já vem se manifestando desde o começo do mês, com recuo de 1,28% no IFIX em relação ao fechamento de agosto e dez resultados negativos nos 13 primeiros pregões realizados neste mês.
“O mercado deve seguir com os preços pressionados pela alta não só da Selic, mas também pela curva de juros futuros, se continuar valendo a projeção de altas até chegar a 11,25% ao ano, afetando o setor de fundos imobiliários como um todo”, aponta Pedro Dafico, analista de FIIs da Suno Research.
Selic em alta: bom para alguns FIIs?
O especialista destaca que os fundos de tijolo, mais dependentes de dados da movimentação da economia real, tendem a sentir mais a subida da Selic. “A precificação desses fundos está muito atrelada aos juros futuros, então a tendência é que eles tenham um momento de dificuldade agora”, diz Dafico.
O analista diz, contudo, que mesmo os FIIs de tijolo podem se beneficiar, especialmente se o IPCA continuar pressionado. “A inflação pode impactar positivamente os reajustes contratuais, por exemplo, mas esse é um benefício que será colhido mais no longo prazo”, destacou.
Já os FII de papel tendem a colher bons frutos, “especialmente aqueles com remuneração atrelada ao CDI”, destaca Dafico, lembrando que o CDI é uma taxa que oscila paralelamente à Selic e tende, portanto, a permanecer elevado nos próximos meses.
Preços em queda: hora de comprar?
Pedro Dafico lembra que momentos de possível desvalorização dos FIIs, como o atual, podem gerar janelas de oportunidade no longo prazo para quem mantiver a opção de longo prazo pelo investimento no mercado de fundos imobiliários.
“O investidor de longo prazo está sempre à procura de ativos baratos para fazer bons negócios, mas sempre com uma margem de segurança. Esses movimentos macroeconômicos podem abrir oportunidades para a realização de novos aportes, aproveitando que o mercado já vinha antecipando a Selic mais alta”, destacou o analista da Suno Research.
Ela lembra, no entanto, que o momento é de evitar movimentos bruscos na carteira e observar os fundamentos dos FIIs pretendidos. “É preciso pensar sempre de forma estratégica e manter o foco. Se não houve mudança nos fundamentos do fundo, o investidor pode fazer novas alocações, mas sempre com muita parcimônia”, concluiu o analista da Suno Research sobre o crescimento da Selic.