Selic a 10,5%: qual o impacto dos juros altos nos Fiagros? 

Estagnação da Selic pode ter resultado positivo para o mercado de Fiagros, mas é preciso avaliar com cuidado os riscos de inadimplência.

Selic a 10,5%: qual o impacto dos juros altos nos Fiagros? 
Selic alta pode ter impacto positivo nos Fiagros - foto: Freepik

A interrupção no ritmo de queda da Selic causou muita turbulência no mercado de capitais nas últimas semanas, com boa parte dos fundos imobiliários (FIIs) e Fiagros negociados em Bolsa tendo queda nas cotações. 

Em geral, a alta dos juros é vista como um atrativo extra para o mercado de renda fixa, que consegue entregar rentabilidade mais alta com relativa segurança, o que afasta o investidor mais avesso ao risco.

Mas, para quem se mantém alocado no mercado de renda variável, a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de manter a taxa básica de juros da economia brasileira em 10,5% ao ano pode beneficiar ao menor uma parte do setor de Fiagros, especialmente aqueles que investem em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), títulos de dívida que ajudam a financiar a produção.

Isso porque boa parte dos CRAs tem remuneração atrelada ao CDI, a taxa de referência dos bancos que costuma oscilar junto com a Selic. “Com o CDI mais alto do que se projetava no começo do ano, um dos pontos positivos é a alta nos rendimentos, que estão atrelados a essa taxa mais elevada”, explica João Vitor Franzin, analista de crédito estruturado da Suno Asset, que tem em seu portfólio de fundos o Fiagro SNAG11.

Selic e Fiagros: atenção redobrada

O especialista alerta, no entanto, que a vantagem atrelada a rendimentos maiores traz um elemento de risco: a maior possibilidade de inadimplência, diante da exigência de pagamentos mais altos pelos produtores.

“Os rendimentos dos Fiagros, para crescer, vão depender do aumento do custo da dívida dos produtores, e em alguns casos esses devedores podem estar em situação complicada, eventualmente já enfrentando sérios problemas de rentabilidade junto com a alta alavancagem”, aponta o analista.

Desde o início do ano, alguns Fiagros enfrentaram problemas de inadimplência junto a devedores que já vinham sofrendo com os problemas citados por Franzin, inclusive com cerca de 400 pedidos de recuperação judicial.

Especialistas apontam que eram empresas que já vinham caminhando sobre a corda bamba, e esse grupo eventualmente pode crescer. “Players que já enfrentam problemas podem a vir a ficar inadimplentes, devido à incapacidade de pagar as dívidas com juros mais altos incidindo sobre elas”, aponta.

O analista da Suno Asset, no entanto, acredita que, embora uma Selic alta seja vista de forma negativa pelo setor produtivo, há outros fatores com impacto ainda maior. “Os juros altos são prejudiciais ao agro, mas eles têm menos influência do que fatores como a oscilação dos preços das commodities e dos insumos de produção”, destaca o especialista.

SNAG11: projeções positivas e cuidado com risco

João Vitor Franzin atua diretamente na gestão do Fiagro SNAG11, da Suno Asset, que tem 89% de sua carteira atrelada ao CDI, com spread médio de 3,47%, o que tende a ampliar a receita do fundo nos próximos meses. Para isso, porém, é preciso um monitoramento completo dos devedores.

“A qualidade do crédito do SNAG11 se mantém, o que é possível de comprovar porque mensalmente a carteira passa por uma análise independente da Serasa, que busca quantificar o risco real”, explica o analista, destacando que o fundo segue com inadimplência zerada.

Segundo ele, a tese de investimento do SNAG11 vem se mostrando sólida. “A ideia de um Fiagro high grade, com investimentos mais seguros, focada em devedores com alta capacidade de pagamento mesmo em cenários adversos, como crises climáticas e CDI mais alto, vem se mostrando vencedora”, explica Franzin.

Mas e o investidor? Para o analista da Suno Asset, antes de escolher em qual dos Fiagros investir, é preciso observar com atenção a carteira do fundo, conhecendo os devedores e sua respectiva capacidade de pagamento. “É o principal fator a se considerar nesse momento, e não apenas um eventual preço mais baixo da cota”, conclui o especialista.

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foto: Fernando Cesarotti
Fernando Cesarotti
Editor

Jornalista, editor do FIIs.com.br. Graduado pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo Literário, com mais de 20 anos de experiência em coberturas de economia, política e esportes. Passagem também pelo meio acadêmico, como professor universitário em cursos de Comunicação e líder de empresa júnior.

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