Semana Especial de Fiagros: setor financia ações do agronegócio

Fiagros tem participação importante na aquisição de títulos de renda fixa que servem para fornecer financiamento mais barato a produtores.

Semana Especial de Fiagros: setor financia ações do agronegócio
Fiagros semana especial imagem de colheita - Foto: iStock

Os Fiagros (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) são um veículo de investimento que capta recursos dos investidores para financiar boa parte da produção do agronegócio, setor que proporcionalmente mais cresceu na economia brasileira em 2023, com alta de 15,1% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do IBGE relativos ao PIB do ano ano passado.

A Semana Especial de Fiagros traz, até sexta-feira, uma série de reportagens especiais para quem deseja conhecer mais a fundo esse mercado. Também na sexta, uma live com especialistas no setor vai tirar dúvidas dos investidores. Fique de olho!

Parte desse aumento, verificado com a safra recorde de 2023, foi propiciado justamente pela emissão dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), títulos de dívida emitidos por empresas ligadas ao setor cuja arrecadação serve para financiar a produção a um custo mais baixo do que os juros de empréstimos bancários.

Quando consideramos o fluxo de financiamento da economia, é essencial distinguir dois mercados frequentemente confundidos: 

No caso do agronegócio, as principais operações realizadas pelos bancos são as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), em que a emissão é realizada pelos bancos, com responsabilidade compartilhada pelas empresas que captam os recursos.

Já os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) são títulos emitidos pelas empresas, como acontece com as debêntures, no caso dos setores da produção urbana. Eles representam uma dívida vinculada às etapas do processo produtivo e podem ser de uma única empresa ou distribuída entre diversos devedores, num processo chamado pulverização.

Leia também: Como começar a investir em meio à expansão do mercado?

Fiagros e CRAs: como o ativo é utilizado

Em 2023, houve 169 emissões de CRAs, que arrecadaram cerca de R$ 43,1 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), com prazo médio de vencimento de 6,4 anos.

Esses títulos oferecem remuneração atrelada a um índice, que pode ser o CDI (Certificado de Depósitos Interbancários), geralmente próximo à Selic, ou o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do país, calculada pelo IBGE. Além disso, para aumentar a atratividade no mercado, os títulos também têm um spread, ou seja, uma remuneração além do índice.

Os CRAs são emitidos geralmente em valores unitários de R$ 500 ou R$ 1.000, e estruturados de forma a oferecer pagamentos periódicos de remuneração, com cálculo dos juros devidos a partir de sua emissão, e também de amorização, que é o pagamento parcial do chamado principal que compõe a dívida.

Os rendimentos dos Fiagros que investem em títulos de dívida vêm justamente desses valores. Como nem todos são pagos mensalmente, cabe à gestão realizar escolhas de forma a garantir um fluxo adequado de pagamentos que seja atraente aos investidores.

Em que outros produtos os Fiagros investem?

Mas nem só de LCAs e CRAs são compostos os ativos negociados pelos Fiagros. Os fundos têm a flexibilidade de investir em uma ampla variedade, como direitos creditórios, imóveis e ações ou cotas de sociedades responsáveis pela produção – desde que estejam relacionados às atividades integrantes da cadeia agroindustrial.

Os Fiagros listados podem ser divididos em três categorias distintas:

“A diversificação de ativos permite que os investidores escolham entre diferentes estratégias de investimento, de acordo com seus objetivos e perfil de risco”, aponta Mario Okazuka, CEO da GCB Capital.

Há alguns fundo, contudo, que investem de forma híbrida, ou seja, em mais de uma modalidade. O SNAG11, fundo sob gestão da Suno Asset, é um fundo da modalidade Fiagro-FII, mas detém em carteira, além de títulos de dívida, a propriedade de imóveis.

Em seu último relatório, o SNAG11 apresentou um patrimônio líquido de R$ 503,6 milhões, alocado em sete diferentes ativos, que financiam diferentes setores do agronegócio: 

AtivoAlocação de Patrimônio (%)Segmento
CRA Pulvenrizado Boa Safra66,8%Sementes
CRA Leitíssimo7,9%Leite e derivados
CRA Ruiz Coffee9,9%Café
Imóvel Rural Sorriso7,9%Distribuição
Imóvel Rural Primavera2,8%Beneficiamento
Big Trade FIDC Senior2%Café
Big Trade FIDC Meza2%Café
Fonte: SNAG11

No caso do CRA Pulverizado Boa Safra, as dívidas têm como corresponsáveis mais de 200 empresas e produtores que compram sementes de soja da empresa, listada na B3 com o ticker SOJA3, e cujo pagamento com a venda da produção colhida é diretamente destinado à quitação das obrigações dos certificados. Até agora, o SNAG11 permanece sem nenhum registro de inadimplência.

Fiagros: estruturação e fontes de rendimentos

A estrutura dos Fiagros é, no geral, semelhante à dos Fundos Imobiliários, ainda que tenha recebido algumas adaptações para atender melhor às necessidades do setor agropecuário.

Pelo menos 95% dos lucros obtidos devem ser distribuídos semestralmente aos cotistas, com a política de distribuição sendo definida pelo gestor do fundo.

Em geral, os gestores optam pela distribuição mensal dos dividendos dos Fiagros, assim como a maior parte dos FIIs, com isenção de Imposto de Renda para os fundos com mais cotistas. Por isso, é preciso manter um fluxo de recebimentos em relação aos títulos: oscilações no pagamento de proventos podem provocar uma fuga de investidores, reduzindo o valor de mercado das cotas e colocando em dúvida a capacidade de gestão do fundo.

Também é possível faturar com o ganho de capital na diferença entre os preços de compra e de venda dos CRAs, que são negociados no mercado secundário e podem enfrentar oscilações – tanto por causa de mudanças no cenário agrícola como pela necessidade de seus portadores, como um investidor que precisa de liquidez urgente e pode aceitar a venda por um valor mais barato.

Quando o Fiagro investe em imóveis, a remuneração vem dos alugueis pagos pelas empresas que ocupam as terras para a produção agropecuária. Já os Fiagros que investem na participação em empresas faturam com os lucros obtidos e os dividendos distribuídos.

Vale destacar, ainda, que o Fiagro pode ser constituído como um condomínio aberto, para emissões com registro no balcão, ou como um condomínio fechado, para emissões no mercado listado da B3.

As ofertas de Fiagros no mercado listado, por serem condomínios fechados, não têm um prazo de duração estabelecido, o que significa que não há uma data definida para a sua liquidação. Nesses casos, se um investidor desejar deixar o investimento, ele só poderá fazê-lo vendendo suas cotas no mercado secundário.

Maior diversificação e menor aporte em relação aos CRAs

Os Fiagros permitem aos investidores se expor ao agronegócio de forma diversificada e com custos menores em relação a quem deseja investir diretamente em CRAs – como já citamos, um título de dívida pode custar até R$ 1.000, enquanto alguns fundos, como o SNAG11, sob gestão da Suno Asset, têm cotas negociadas na casa dos R$ 10.

Além disso, como vimos acima, os fundos com melhor gestão pagam dividendos mensais de forma regular e sem oscilação de valores, o que permite previsibilidade na formação de renda passiva com Fiagros, já que CRAs variam na periodicidade de pagamentos.

Essa gestão faz com que os fundos invistam em diversos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), selecionando os ativos de forma criteriosa, variando o segmento dentro do agronegócio, a fim de garantir a qualidade dos ativos, um bom fluxo de caixa e a desejada  estabilidade dos rendimentos.

Por fim, os Fiagros listados em bolsa oferecem liquidez, permitindo aos investidores vender suas cotas e receber o valor em apenas dois dias, o que os torna uma opção atraente para quem valoriza a liquidez e a diversificação em seus investimentos.

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foto: Vinícius Alves
Vinícius Alves
Jornalista

Jornalista formado na Faculdade Cásper Líbero. Com passagens pela Agência Estado e Editora Globo.

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