Fundos imobiliários valem a pena com Selic em alta? Veja opinião do especialista

Mercado de fundos imobiliários vem registrando queda como impacto da decisão do Copom, mas especialista vê janela de oportunidades.

Fundos imobiliários valem a pena com Selic em alta? Veja opinião do especialista
Mercado de FIIs oferece boas oportunidades, diz Baroni - Foto: Pixabay

O mercado de fundos imobiliários sofreu forte turbulência nas últimas semanas, desde que o consenso do mercado passou a projetar a expectativa de alta da Selic, confirmada na semana passada com a elevação da taxa básica de juros da economia brasileira para 10,75%, anunciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).

Durante o mês de setembro, o IFIX, principal índice do mercado de FIIs, acumula queda de 1,73%, sendo 0,91% apenas na semana passada, na qual o índice caiu todos os dias. Em 15 pregões no mês, apenas três terminaram com resultado positivo.

Nesse cenário, a pergunta que todo investidor faz é se os FIIs valem a pena, ainda, diante de outras opções, como a renda fixa. E o professor Marcos Baroni, head de fundos imobiliários da Suno, admite: “Resiliência é o nome do jogo em FIIs”.

Em seguida, contudo, ele completa que sim, ainda vale a pena investir em fundos imobiliários, com ativos de tijolo que tendem a pagar dividendos de 9,5 a 10% ao ano, e FIIs de papel que podem chegar a 13% ao ano e, assim, superar o patamar dos títulos do Tesouro Direto com vencimento em 2020, que estão pagando em média, IPCA + 6,3%.

“É possível montar uma carteira diversificada que podem oferecer uma média de IPCA + 8% ou 8,5% ao ano, mas isso talvez não esteja explícito para os investidores e pode gerar algumas janelas de oportunidade”, diz Baroni, citando especialmente a queda recente nos preços de vários ativos, nas últimas semanas, justamente por causa da perspectiva de alta na Selic, o que tende a gerar movimentos de venda e migração do capital para fundos de renda fixa, por exemplo.

Por que a Selic subiu? Gustavo Sung explica

Na live acima, realizada com o professor Baroni, o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, aprofunda algumas explicações sobre o comunicado do Copom que justificou a alta da Selic. “Foi um comunicado completo, detalhando todos os riscos inflacionários e dando a impressão de que o novo ciclo de alta vai pelo menos até o primeiro trimestre de 2025”, apontou.

Entre esses fatores de risco estão o conjunto de indicadores de atividade econômica (PIB) e do mercado de trabalho, que têm apresentado dinamismo maior do que o esperado, assim como dados recentes dentro dos relatórios do IPCA, mesmo com a deflação (inflação negativa) anunciada em agosto.

“Os principais elementos que contribuíram para a queda da inflação podem mudar, como por exemplo o preço da energia, que estava em bandeira verde e agora já vai para bandeira vermelha, mais cara, e o preço dos insumos industriais, que podem voltar a acelerar especialmente com o fortalecimento do dólar”, detalhou Sung.

Além disso, ele acredita que essa reunião do Copom foi uma espécie de teste para o economista Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC e indicado pelo governo para assumir a presidência a partir de janeiro. A decisão unânime sinalizou ao mercado, para Gustavo Sung, que Galípolo tende a tomar decisões técnicas e ficará imune a eventuais pressões do governo para reduzir juros sem a fundamentação adequada.

“Quando você tem uma mudança em vista e o futuro presidente mostra uma posição cautelosa e livre de interferências, você ganha em credibilidade e evita que a curva de juros futuros possa subir ainda mais e que o Copom tenha que ser mais duro no ano que vem”, detalhou o economista-chefe da Suno.

Ele aponta, ainda, que sinalizações do governo brasileiro referentes a cortes de gastos e a queda de juros nos EUA ajudam a desestressar os mercados e devem reduzir um pouco a valorização sofrida pelo dólar desde o início do ano, com menor demanda pela moeda norte-americana.

Fundos imobiliários e Selic: o que observar para escolher

O professor Baroni admitiu a dificuldade das gestoras de FIIs de entregar uma boa rentabilidade num cenário de alta na Selic, mas acredita, ao mesmo tempo, que a economia brasileira de certa forma aprendeu a funcionar nesse cenário de juros elevados.

Além disso, ele destaca que alguns fundos dos segmentos de shopping centers e de galpões logísticos aproveitaram o cenário positivo entre o fim do ano passado e o início deste para boa janela de captações. “De um modo geral, a gente aprendeu a trabalhar no Brasil com juros altos. Posso dizer que o Baroni de hoje é muito mais preocupado com a inflação do que com os juros”, admitiu o especialista.

Ao mesmo tempo, ele reiterou que o cenário não será fácil, especialmente no curto prazo, e reiterou a sugestão de encarar o momento com resiliência. E defende que cada investidor deve fazer suas escolhas baseado em seu perfil e em seu próprio horizonte de expectativas – e, se achar necessário, não hesitar em procurar a ajuda de um especialista.

“Às vezes parece que o mercado anda de lado, mas mesmo assim o volume de investidores em fundos imobiliários vem crescendo e os dividendos, livres de imposto de renda, podem compensar a falta de valorização nominal até que o cenário volte a se mostrar positivo”, concluiu Baroni.

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foto: Fernando Cesarotti
Fernando Cesarotti
Editor

Jornalista, editor do FIIs.com.br. Graduado pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo Literário, com mais de 20 anos de experiência em coberturas de economia, política e esportes. Passagem também pelo meio acadêmico, como professor universitário em cursos de Comunicação e líder de empresa júnior.

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