Fundos imobiliários valem a pena com Selic em alta? Veja opinião do especialista
Mercado de fundos imobiliários vem registrando queda como impacto da decisão do Copom, mas especialista vê janela de oportunidades.
O mercado de fundos imobiliários sofreu forte turbulência nas últimas semanas, desde que o consenso do mercado passou a projetar a expectativa de alta da Selic, confirmada na semana passada com a elevação da taxa básica de juros da economia brasileira para 10,75%, anunciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).
Durante o mês de setembro, o IFIX, principal índice do mercado de FIIs, acumula queda de 1,73%, sendo 0,91% apenas na semana passada, na qual o índice caiu todos os dias. Em 15 pregões no mês, apenas três terminaram com resultado positivo.
Nesse cenário, a pergunta que todo investidor faz é se os FIIs valem a pena, ainda, diante de outras opções, como a renda fixa. E o professor Marcos Baroni, head de fundos imobiliários da Suno, admite: “Resiliência é o nome do jogo em FIIs”.
Em seguida, contudo, ele completa que sim, ainda vale a pena investir em fundos imobiliários, com ativos de tijolo que tendem a pagar dividendos de 9,5 a 10% ao ano, e FIIs de papel que podem chegar a 13% ao ano e, assim, superar o patamar dos títulos do Tesouro Direto com vencimento em 2020, que estão pagando em média, IPCA + 6,3%.
“É possível montar uma carteira diversificada que podem oferecer uma média de IPCA + 8% ou 8,5% ao ano, mas isso talvez não esteja explícito para os investidores e pode gerar algumas janelas de oportunidade”, diz Baroni, citando especialmente a queda recente nos preços de vários ativos, nas últimas semanas, justamente por causa da perspectiva de alta na Selic, o que tende a gerar movimentos de venda e migração do capital para fundos de renda fixa, por exemplo.
Por que a Selic subiu? Gustavo Sung explica
Na live acima, realizada com o professor Baroni, o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, aprofunda algumas explicações sobre o comunicado do Copom que justificou a alta da Selic. “Foi um comunicado completo, detalhando todos os riscos inflacionários e dando a impressão de que o novo ciclo de alta vai pelo menos até o primeiro trimestre de 2025”, apontou.
Entre esses fatores de risco estão o conjunto de indicadores de atividade econômica (PIB) e do mercado de trabalho, que têm apresentado dinamismo maior do que o esperado, assim como dados recentes dentro dos relatórios do IPCA, mesmo com a deflação (inflação negativa) anunciada em agosto.
“Os principais elementos que contribuíram para a queda da inflação podem mudar, como por exemplo o preço da energia, que estava em bandeira verde e agora já vai para bandeira vermelha, mais cara, e o preço dos insumos industriais, que podem voltar a acelerar especialmente com o fortalecimento do dólar”, detalhou Sung.
Além disso, ele acredita que essa reunião do Copom foi uma espécie de teste para o economista Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC e indicado pelo governo para assumir a presidência a partir de janeiro. A decisão unânime sinalizou ao mercado, para Gustavo Sung, que Galípolo tende a tomar decisões técnicas e ficará imune a eventuais pressões do governo para reduzir juros sem a fundamentação adequada.
“Quando você tem uma mudança em vista e o futuro presidente mostra uma posição cautelosa e livre de interferências, você ganha em credibilidade e evita que a curva de juros futuros possa subir ainda mais e que o Copom tenha que ser mais duro no ano que vem”, detalhou o economista-chefe da Suno.
Ele aponta, ainda, que sinalizações do governo brasileiro referentes a cortes de gastos e a queda de juros nos EUA ajudam a desestressar os mercados e devem reduzir um pouco a valorização sofrida pelo dólar desde o início do ano, com menor demanda pela moeda norte-americana.
Fundos imobiliários e Selic: o que observar para escolher
O professor Baroni admitiu a dificuldade das gestoras de FIIs de entregar uma boa rentabilidade num cenário de alta na Selic, mas acredita, ao mesmo tempo, que a economia brasileira de certa forma aprendeu a funcionar nesse cenário de juros elevados.
Além disso, ele destaca que alguns fundos dos segmentos de shopping centers e de galpões logísticos aproveitaram o cenário positivo entre o fim do ano passado e o início deste para boa janela de captações. “De um modo geral, a gente aprendeu a trabalhar no Brasil com juros altos. Posso dizer que o Baroni de hoje é muito mais preocupado com a inflação do que com os juros”, admitiu o especialista.
Ao mesmo tempo, ele reiterou que o cenário não será fácil, especialmente no curto prazo, e reiterou a sugestão de encarar o momento com resiliência. E defende que cada investidor deve fazer suas escolhas baseado em seu perfil e em seu próprio horizonte de expectativas – e, se achar necessário, não hesitar em procurar a ajuda de um especialista.
“Às vezes parece que o mercado anda de lado, mas mesmo assim o volume de investidores em fundos imobiliários vem crescendo e os dividendos, livres de imposto de renda, podem compensar a falta de valorização nominal até que o cenário volte a se mostrar positivo”, concluiu Baroni.