FIIs valem a pena mesmo com queda do IFIX? Veja o que especialistas dizem
Queda do IFIX em oito dos últimos pregões desde o recorde histórico de 12 de abril deixou investidores em dúvida.
O investimento em fundos imobiliários (FIIs) continua valendo a pena, na visão de analistas, apesar do cenário de queda do IFIX registrado desde seu recorde histórico, de 3.429,95 pontos, no último dia 12 de abril.
Embora tenha registrado alta de 0,17% nesta sexta-feira (26) em relação à véspera, em 3.366,74 pontos, o índice de FIIs acumula perda de 1,67% nessas últimas duas semanas desde a máxima histórica. Em abril, a queda acumulada é de 1,22%.
A queda do IFIX, na visão desses especialistas, vem ocorrendo muito mais por questões externas, referentes ao cenário macroeconômico global, do que por temas relacionados diretamente aos ativos ou ao mercado imobiliário:
- decisão do Fed, o banco central norte-americano, de manter os juros dos EUA no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano, e ata revelando que os diretores estão em dúvida sobre a segurança em reduzir as taxas no curto prazo;
- ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) que manteve a projeção de redução da Selic em meio ponto apenas para a próxima reunião, em vez de “próximas reuniões” como nos textos anteriores, o que passou a impressão de que a queda dos juros básicos da economia brasileira deve desacelerar a partir de junho, devido a incertezas tanto no controle da inflação quanto a ajustes fiscais;
- em consequência desses dois pontos, abertura da curva de juros futuros dos títulos NTN-B, papeis do Tesouro Direto atrelados ao IPCA, que servem de referência para o mercado imobiliário e voltaram a subir, oferecendo spreads a partir de 6%.
“Em cenários de estresse causados por juros e inflação, é comum observarmos uma maior volatilidade em ativos de renda variável”, explica Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital. Segundo ele, os fundos mais alavancados, ou seja, com dívidas, tendem a sofrer mais com perdas nesse cenário.
Segundo o especialista, FIIs de papel concentrados em poucos emissores, ou em setores vulneráveis, assim como em títulos indexados ao IPCA/Selic com baixo spread e ausência de garantias, correm maior risco de perda de valor, assim como “FIIs de baixa liquidez que buscam crescimento por meio de novas emissões devem apresentar maior volatilidade e sensibilidade nos resultados”.
FIIs em queda podem oferecer boas oportunidades
A tendência, no entanto, deve ser revertido no médio e longo prazo, com a retomada das projeções feitas no início do ano para o bom desempenho dos FIIs de tijolo, caso de shoppings e galpões logísticos, uma vez que a tendência de queda de juros, mesmo que desacelerada, deve ser mantida. Vale lembrar que, desde o início do ano, a valorização acumulada do IFIX segue positiva, em 1,59%.
“As projeções estão sendo postergadas momentaneamente, mas seguimos acreditando que sejam movimentos alheios às qualidades intrínsecas dos FIIs, ou seja, os portfólios seguem performando normalmente”, explica Pedro Dafico, analista de FIIs da Suno Research. Belitardo, da Hike Capital, concorda. “Não mudamos nossas projeções. Ainda esperamos a Selic em 9% no fim deste ano”, apontou o gestor.
É verdade que nem todas as quedas foram por motivos externos. O BTLG11, por exemplo, caiu cerca de 5,5% nas últimas duas semanas, depois da liberação para negociação na B3 das cotas da 13ª emissão, o que aumentou a oferta do papel e puxou o preço de mercado para perto do valor patrimonial, de R$ 99,65.
Apesar desse recuo, a analista Carol Borges, da EQI Research, mantém o ativo como opção interessante. “Vemos potencial de valorização da cota, especialmente se adicionarmos o efeito positivo das últimas transações, que incluem a reciclagem do portfólio com vendas lucrativas para o cotista e aquisições que contribuem para o incremento da receita recorrente”, explicou a especialista em relatório.
Dicas: aproveitar as oportunidades e pensar em longo prazo
Para gestores e analistas, o momento não é de deixar o mercado de FIIs, e sim de aproveitar oportunidades que a queda dos preços pode trazer. Além disso, todos lembram que o investimento em fundos imobiliários requer foco no médio e longo prazo, ou seja, sem movimentos bruscos e vendas impensadas.
“O investidor deve aproveitar momentos de oportunidade para aumentar posição em FIIs que apresentem consistência nos níveis de distribuição de dividendos, desalavancados e com rendimento anual dos proventos projetado superior ao CDI ou a IPCA+8%”, avalia Belitardo, da Hike Capital.
“Alguns bons FIIs podem negociar a patamares interessantes que potencializam o retorno em dividendos, podendo promover eventual ganho de capital. FIIs com bom portfólio, principalmente de logística, shoppings e renda urbana, são boas oportunidades para um posicionamento de médio e longo prazo”, aponta Carol Borges, da EQI Research.
“Para quem está em formação patrimonial, é um bom momento para adquirir cotas de FIIs a preços mais atrativos. Quem já investe deve ter paciência e disciplina para continuar a seguir sua estratégia, sem decisões no calor do momento. O foco tem que ser no longo prazo”, conclui Pedro Dafico, da Suno Research.