Fiagros em risco? Analistas sugerem calma após relatos de CRAs inadimplentes 

Especialista apontam que casos são pontuais, mas recomendam cuidado com movimentações apressadas e sugerem escolha cuidadosa de ativos.

Fiagros em risco? Analistas sugerem calma após relatos de CRAs inadimplentes 
Fiagros seguem como investimento seguro - Foto: iStock

O mercado de Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais) acendeu uma luz amarela no início desta semana, após a inadimplência de alguns Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs) ser citada em relatórios gerenciais de alguns fundos. Mas analistas que atuam no mercado acreditam que são fenômenos pontuais que não devem impactar o setor como um todo.

A projeção de uma safra agrícola menor em 2024, na comparação com a colheita recorde do ano anterior, com possível impacto do fenômeno El Niño, já era um fato que assustava o mercado. As inadimplências reportadas pelos gestores de fundos serviram só para ampliar o burburinho.

Fabricio Gonçalvez, presidente da Box Asset Management, afirma que o mercado deve ficar atento às condições macroeconômicas e também a questões envolvendo players específicos. “Embora esses problemas possam ser pontuais, é importante estar atento ao risco de aumento da inadimplência, especialmente em um contexto de desafios enfrentados pelo setor agrícola nos últimos meses”, afirma o analista.

Ele aponta que fatores como quebras de safra e oscilações nos preços das commodities, além de eventuais pedidos de recuperação judicial por empresas do setor, podem contribuir para um ambiente de maior incerteza.

“Embora o agronegócio seja historicamente resiliente e tenha mostrado capacidade de recuperação em situações adversas, é importante considerar os diversos fatores que podem influenciar o desempenho do setor, como condições climáticas, políticas governamentais e demanda internacional”, aponta Gonçalvez.

Fiagros: índice de inadimplência ainda é baixo

Vitor Duarte, CIO da Suno Asset e atuante na gestão do fundo SNAG11, tem uma visão mais otimista. “São questões pontuais de alguns produtores e empresas mais alavancadas, que sofrem muito mais com qualquer volatilidade, mas que representam muito pouco dentro do universo de produtores que estão no mercado”, explica o especialista. 

Ele destaca que o mercado do agronegócio é volátil por natureza e também muito diverso: nem todas as empresas veem a rentabilidade crescer ao mesmo tempo. “Por exemplo, a alimentação do gado é feita de soja e milho. Se o preço de soja e milho aumenta, o produtor dessas commodities ganha, mas o pecuarista vê sua margem reduzir e nem sempre pode repassar o aumento”, explica Duarte.

Amanda Coura, também analista da Suno Asset, destaca que o Fiagro é um investimento de renda variável – por natureza, mais exposto a risco, inclusive por se basear em título de crédito. Mas avisa que não há motivo para desespero. “Claro que todas as operações de dívida podem ter risco de atraso, mas até agora é um cenário que aconteceu um poucas operações, de ser uma questão generalizada.’, aponta a especialista.

Maria Tereza Vendramini, especialista em estruturação e originação de crédito da AZ Quest, gestora do Fiagro AAZQ11, completa o coro. “Há muito barulho em relação aos devedores dos Fiagros, mas são apenas situações pontuais de inadimplência. Diversas companhias e acionistas caminham na direção contrária ao da ruptura”, defendeu a especialista.

O que o investidor deve fazer?

A primeira decisão do investidor, alertam os analistas, é manter a calma e evitar decisões precipitadas que possam resultar em prejuízo, como a venda apressada de cotas de Fiagros que venham a sofrer com inadimplência de seus devedores. 

Fabricio Gonçalvez, da Box Asset, afirma que o investidor deve reavaliar a tolerância ao risco e a capacidade de lidar com potenciais perdas, e recorrer a um especialista, se for o caso, para buscar suporte sobre ativos específicos da carteira para considerar as melhores opções. 

“Isso pode incluir aguardar um reposicionamento do mercado, caso se acredite que os problemas sejam temporários e passíveis de solução, ou considerar a diversificação para outras opções de investimento que ofereçam um perfil de risco mais adequado. Em qualquer caso, a decisão deve ser baseada em uma análise cuidadosa e alinhada aos objetivos de investimento e à estratégia de cada um”, destaca o analista.

Amanda Coura, da Suno Asset, destaca que o investidor deve sempre buscar informações, no caso dos Fiagros, sobre a composição das carteiras, para entender fatores como a diversificação do portfólio e a situação das empresas devedoras dos CRAs.

“É preciso entender se as operações têm garantias robustas e estão estruturadas de forma a permitir que não sejam comprometidas por eventuais solavancos de mercado. Risco sempre  vai haver, mas se a alocação foi feita de forma racional, o investidor do Fiagro não deve ter pressa para se desfazer do investimento”, alerta a analista.

Fiagros: SNAG11 tem pulverização e inadimplência zerada

Amanda Coura destaca que a gestão do SNAG11 busca atuar sempre com transparência junto aos cotistas, em busca de operações “robustas” e com acompanhamento constante dos riscos de inadimplência, que hoje segue zerada.

“Ficamos de olho para mitigar qualquer evento que possa vir a acontecer. É uma carteira diversificada, com fundos de liquidez como garantia para eventuais não pagamentos”, destaca a analista.

Vitor Duarte, CIO da Suno Asset, complementa que cerca de 70% da carteira do SNAG11 está alocada em operações pulverizadas, em que o lastro dos CRAs é dividido entre as empresas emissoras e seus próprios clientes, com CPFs atrelados à operação, o que reduz o risco de atraso nos pagamentos.

“O produtor paga a empresa, e o dinheiro já vai para o pagamento do CRA. Temos várias operações nesse formato, o que reduz diminui o risco”,aponta.

Segundo ele, o ideal em qualquer investimento é apostar em portfólios com maior resiliência. “O mercado agro tem volatilidade e oscilação, por isso o ideal é optar por portfólios um pouco mais conservadores, com cobertura maior e boas condições de garantia, com empresas focadas em questões de governança”, conclui Duarte.

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foto: Fernando Cesarotti
Fernando Cesarotti
Editor

Jornalista, editor do FIIs.com.br. Graduado pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo Literário, com mais de 20 anos de experiência em coberturas de economia, política e esportes. Passagem também pelo meio acadêmico, como professor universitário em cursos de Comunicação e líder de empresa júnior.

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