Mercado de FIIs pode avançar e, no futuro, seguir modelo do Tesouro Direto, diz Baroni

Os FIIs foram se tornando mais acessíveis conforme bases foram diminuindo e poderiam funcionar pelo volume financeiro em algum momento no futuro, diz especialista

Mercado de FIIs pode avançar e, no futuro, seguir modelo do Tesouro Direto, diz Baroni
FIIs que custam menos de R$ 10.Foto: Pixabay

Ao longo de quase três décadas, a indústria de Fundos Imobiliários (FIIs) no Brasil passou por diversas transformações, com o seu crescimento catalisado após 2016, período de queda na taxa de juros. 

Os FIIs, que começaram a ser negociados na base dos R$ 1.000, foram se tornando mais acessíveis à pessoa física, migrando para R$ 100 e hoje muitos estão com sua cota na base de R$ 10. 

Segundo Marco Baroni, analista CNPI e especialista em FIIs da Suno Research, isso oferece maior acessibilidade ao pequeno investidor, permitindo projetar aportes a essa categoria de Fundos. “Esse movimento da indústria é democratizador, mas precisamos lembrar que não é por conta da base que o fundo é melhor ou pior.”

Portanto, diz o analista, você pode ter excelentes portfólios que estejam na base 100 e portfólios não tão bons na listados em R$ 10. Dessa forma, a base não determina qualidade. 

“Cotas mais baratas acabam entrando no radar do investidor que está começando e isto é um ponto de preocupação, pois alguns investidores compram cotas apenas pelo custo, mas é preciso analisar melhor aquele ativo”, explica Baroni.

Para Pedro van den Berg, diretor de gestão da Zagros Capital, cotas mais baratas ajudam na diversificação da carteira do investidor. “Caso o investidor tenha R$ 1.000 e queira diversificar, invés de comprar 10 cotas de R$ 100, ele consegue montar posição no Fundo com menos cotas, mas também olhar para outros que estão no mercado.”

FIIs como Tesouro Direto?  

Segundo Baroni, o mercado de FIIs avançaria bastante se tivesse um modelo igual do Tesouro Direto, no qual você adquire o ativo pelo volume financeiro e não pelo valor da cota.

No entanto, para o analista isto não deve acontecer no curto tempo, pois envolveria adaptação de custos na escrituração de cotas. “Ainda não atingimos o ‘estado de arte’. Isso ocorrerá quando comprarmos a fração da fração de um FII. Isto é, adquirir cotas pelo valor financeiro, semelhante ao mecanismo do Tesouro Direto, e não somente pela quantidade de cotas”.

“Acredito que se isso um dia acontecer, nós vamos precisar de escala, muito mais investidores e volume para que isso possa ser diluído pelo tamanho da base de cotista e do fundo”, destaca Baroni. 

FIIs: desdobramento de cotas; o que impacta 

Nos últimos meses, vários FIIs anunciaram desdobramento de cotas. Em setembro, o Fundo de Investimento Imobiliário Capitânia Securities II (CPTS11) anunciou o desdobramento na razão de um para 10. 

Com isso, na época, o CPTS11 precificado aR$ 88,90 passou a valer R$ 8,80. E o investidor que tinha 1 cota, passou a ter 10. 

Outro grande exemplo é o fundo imobiliário MXRF11, maior FII em número de cotistas – quase 1 milhão, sendo o primeiro FII a ter feito um desdobramento de cotas no Brasil, em 2017. 

Recorte da evolução da cota do MXRF11. Foto: divulgação

Baroni explica que o maior benefício desta medida é maximizar a liquidez e ampliar a base de cotista, tornando o fundo mais acessível. 

Veja alguns FIIs com cotas a R$ 10 listados no IFIX, carteira que reúne os principais fundos do mercado:

ATIVOPREÇO DA COTACOTISTAS
MXRF11R$ 10,80977.470 mil
VCRI11R$ 8,2112.251 mil
GALG11R$ 9,3882.853 mil
CARE11R$ 1,5111.747 mil
TORD11R$ 2,2197.047 mil
BLMR11R$ 6,6318.992 mil
WHGR11R$ 9,579.830 mil
VIUR11R$ 7,9844.113 mil
VSLH11R$ 3,4189.339 mil
CYCR11R$ 9,3513.610 mil
KISU11R$ 8,20123.999 mil
XPSF11R$ 7,8552.474 mil
BTCI11R$ 9,78123.083 mil
VGHF11R$ 9,41313.289 mil
VGIR11R$ 9,67226.183 mil
Fonte: Economatica

No caso, a quantidade de cotas de um determinado FII é aumentada com o valor unitário das cotas sendo reduzido na mesma proporção.

“O desdobramento não impacta no rendimento, se você tem uma cota de R$ 100 que paga um real, depois você vai ter 10 cotas de R$10 que pagará 10 centavos, que no final dará um real”, diz Baroni. 

Os analistas dizem que o importante é ver o valor relativo e não nominal. Por exemplo, um Fundo que tem cotas de 20 mil reais, no qual paga R$ 100 por mês de rendimento tem um valor nominal alto, mas o relativo ao yield é baixo.

Outro ponto destacado por Baroni é que não necessariamente os fundos de base 10 têm mais cotistas. “É possível tranquilamente encontrar fundos de logísticas que são base 10 e tem menos cotistas que de base 100, por exemplo.”

Avanço do mercado e democratização

Baroni ressalta que a democratização dos FIIs não é apenas financeira, mas informacional.  “Hoje, o nível de acesso a informações para o investidor de pessoa física que está começando é de excelente qualidade. Acho que essa seja a maior conquista recente do ponto de vista de democratização de acesso a fundos imobiliários.”

De acordo com Van den Berg, o mercado tende a se consolidar ainda mais nos próximos anos. “Ao todo, a indústria de fundos representa aproximadamente R$ 8 trilhões. Os FIIs atingiram um pouco mais de R$ 220 bi, comparado ao total estamos falando isso representa 2,5%, portanto um montante ainda pequeno.”

O executivo avalia que levando em consideração que o investidor brasileiro é acostumado a gostar do imobiliário, até pela ideia cultural da casa própria, é uma tendência considerando o cenário macroeconômico que o número aumente. “Não é muito difícil que tenhamos 5% a 10% alocados em FIIs, considerando o todo”, conclui Van den Berg.

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foto: Vinícius Alves
Vinícius Alves
Jornalista

Jornalista formado na Faculdade Cásper Líbero. Com passagens pela Agência Estado e Editora Globo.

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